sábado, 23 de abril de 2011

Bolha no Brasil, Canadá e China

Mais um artigo sobre bolha imobiliária.
Desta vez, quem afirma a existência da bolha não é nenhum economista brasileiro, nenhum pai de família de classe média, mas um professor de uma universidade dos Estados Unidos.
A realidade apontada por ele, negada por 10 em cada 10 corretores de imóveis, existe tanto no Brasil quanto na China, e agora, Canadá.
É o mundo globalizado.
E como ele ressalta, a nossa bolha é diferente da dos Estados Unidos, mas é bolha sim.
Então, acho que chegou a hora de pararmos de negar a existência da bolha, e tomar cuidado, muito cuidado, ao investir em imóvel de agora em diante.
Segue a notícia.


Pessimismo sobre nós
Economia


"Algo que me vem à cabeça quando penso em Brasil é a bolha imobiliária", afirmou o professor Robert Shiller, da Universidade de Yale. Um estouro dessa bolha, no entanto, não seria tão devastador no Brasil como foi nos Estados Unidos. "O estouro da bolha imobiliária gerou mais medo aqui do que imagino que geraria no Brasil", completou, ponderando que os americanos eram mais complacentes do que provavelmente são os brasileiros. Shiller também vê bolhas no Canadá e na China. No que se refere à economia global, enquanto os mais otimistas garantem que o pior já passou, Shiller vê "muitos riscos olhando à frente", especialmente nos Estados Unidos. "Preocupo-me que tenhamos um duplo mergulho na recessão", afirmou em entrevista em sua sala no campus da universidade, na cidade de New Haven. Shiller, que já esteve duas vezes no Brasil, foi considerado um dos três economistas mais influentes do pós-crise em levantamento feito pela revista britânica The Economist em fevereiro deste ano, em cuja votação participou importantes economistas da atualidade. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Que riscos o senhor vê no Brasil hoje?

Algo que me vem à cabeça quando penso em Brasil é a bolha imobiliária. Não há muitos lugares no mundo onde há bolhas imobiliárias ocorrendo neste momento, pois estamos vivendo num tipo de mundo pós-bolhas. Houve bolhas em vários países, cujo pico foi há alguns anos e nos trouxe toda essa crise financeira. Desde então, poucos lugares, como China e Brasil, têm apresentado bolhas pós-crise financeira. É um tipo de anomalia de algum modo. Por que o Brasil vai tão bem quando os Estados Unidos estão em colapso? É uma questão interessante. Eu não sei, mas talvez tenha a ver com Dilma. (risos)

Então pergunto, por que acha que o Brasil está indo tão bem?

Parece que o Brasil está emergindo com sucesso no mundo avançado e só continua indo bem. O Brasil é um caso perfeito do que parece ser um novo mundo capitalista. Vocês elegeram Lula, que era de um partido bem de esquerda, homem de sindicato e, mesmo assim, o Brasil se tornou um país capitalista bem sucedido. Esse é um tipo de história do mundo de hoje. É uma revolução capitalista acontecendo e países bem-sucedidos estão envolvidos nela. Parece que essas bolhas imobiliárias são uma reação a isso. Quando eu estava no Brasil há alguns anos, eu percebi que os preços de imóveis não estavam tão elevados e pensei que isso seria apenas uma questão de tempo. E agora os preços estão altos. Outro país que está vivendo uma espécie de bolha imobiliária é o Canadá. Não é uma bolha tão grande, mas os preços de imóveis no Canadá em termos reais subiram ao redor de 50% nos últimos cinco anos e continuam subindo. Então, começa a parecer uma bolha lá também.

O que uma bolha imobiliária em Brasil pode ter em comum a que estourou nos EUA? Afinal não temos o mesmo setor de hipotecas subprime, nem o mercado alavancado como nos EUA.

Você está dizendo a mesma coisa que falam no Canadá e na China (risos). Eles também não têm muito disso, de hipotecas subprime. Eles têm orgulho e acham que o Canadá pode ficar fora disso. Na China, creio também que o segmento de subprime não tem o mesmo tamanho. Eles não têm os mesmo problemas que os EUA tinham, como o das agências de rating dando (notas) "AAA" em ativos de hipotecas duvidosas. Mas, mesmo assim, eles estão atravessando uma bolha. Talvez seja apenas o tipo de bolha clássica causada pela excitação dos investidores e esperanças exageradas em relação ao futuro.

Quão severo pode ser o estouro de uma bolha imobiliária no Brasil?

É uma pergunta interessante. Creio que não seria devastador como foi nos Estados Unidos. Éramos mais complacentes do que provavelmente os brasileiros são agora. O estouro da bolha imobiliária gerou mais medo aqui do que imagino que geraria no Brasil.

Até que ponto a inflação é uma ameaça para o mundo atualmente?

Na verdade, podemos ser surpreendidos por estagflação, pelo menos, nos Estados Unidos e em alguns outros países. A economia mundial não está fortemente recuperada. As autoridades monetárias poderão se ver diante de um conflito, especialmente na Europa e EUA onde, para recuperar suas economias, os governos estão mantendo os juros bem baixos. Mas daí a gente vê a inflação subindo. O preço do petróleo está ajudando a pressionar a inflação e deve continuar a fazê-lo. Esse movimento leva a uma psicologia inflacionária em economias ainda estagnadas e coloca os bancos centrais num dilema. Mas, por enquanto, não vejo a inflação como um risco alto. Estou mais preocupado com uma economia fraca do que com a inflação.

O senhor vê a recente disparada do petróleo como um grande risco?

Nos Estados Unidos, Europa e Japão, os preços do petróleo podem representar quase uma situação de pânico, especialmente, agora, no Japão após essa crise nuclear onde as pessoas estão pensando em uma alternativa à energia nuclear. Acho que é um dos fatores que também podem impulsionar os preços do petróleo. No passado, os preços altos do petróleo foram um bom indicador para recessões. A impressão que tenho é de que há muitos riscos à frente.

Quando o Federal Reserve deve começar a saída da política de afrouxamento (monetário)?

Minha opinião é de que o Fed não será capaz de sair dela tão cedo, pois o taxa de desemprego está em um nível muito alto. Nos Estados Unidos, a taxa está em 8,8%, mas em parte caiu porque os trabalhadores estão desencorajados, deixando de procurar trabalho. A taxa de desemprego de longo período também está em níveis recordes. Isso me faz pensar que o Fed não será capaz de tirar os estímulos por algum tempo e posso imaginar que haverá um QE3 (sigla em inglês para 'quantitative easing' 3 ou uma terceira rodada de alívio quantitativo). Embora eles não tenham dito isso.

O senhor acredita que haverá uma terceira rodada?

Sim, porque eles não podem simplesmente tirar suporte de uma economia ainda tão fraca. Creio que o desemprego se manterá alto por um longo tempo. É por isso que não imagino o Fed subindo os juros. Não posso prever, mas QE3 é certamente uma possibilidade.

Seria o caso também de o governo americano dar mais estímulos fiscais?

Provavelmente, sim. Deveriam investir mais em infraestrutura, como recuperar rodovias e pontes, melhorar escolas, além de fazer mais pesquisas cientificas. Mas estamos fazendo o oposto justamente por causa dessa preocupação com déficit, que é uma preocupação conservadora. Avalio que essa deva ser uma preocupação de longo prazo. Estamos ainda numa economia fraca e não acho que é hora ainda de pensar nisso.

Devemos temer um duplo mergulho ou uma nova recessão nos EUA?

Tenho minha própria definição de duplo mergulho, que é outra recessão ocorrendo antes que a taxa de desemprego volte para níveis mais baixos. Então, me preocupo que tenhamos um duplo mergulho. Até agora tivemos seis trimestres de crescimento sólido desde a recessão, mas vai levar muito tempo até que a taxa de desemprego caía e podemos ter outra crise antes que essa taxa volte realmente para níveis bem mais baixos.

Tivemos um primeiro trimestre turbulento, com problemas em países árabes, no Japão e com a dívida soberana na Europa. Como os mercados acionários conseguiram se sair tão bem?

Costumo dizer que ninguém consegue saber o que está na mente de um investidor. A história que eu contaria é que os mercados caíram tremendamente na época da falência do Lehman Brothers em 2008 e houve grande medo de depressão. Em seguida, houve a eleição do presidente Barack Obama que trouxe uma esperança nova. Tivemos um novo plano, o Ato de Recuperação e Reinvestimento americano de US$ 787 bilhões, em 2009. Os lucros das empresas começaram a melhorar, em parte por causa dos cortes de custos, uma vez que muitas pessoas foram demitidas, o que ajudou nos lucros. Houve também os testes de estresse nos bancos dos EUA que trouxeram (mais clareza sobre saúde dos bancos) e, depois, notícias de bancos pagando grandes bônus aos seus altos executivos. Tudo isso dava a impressão de que estávamos saindo (da crise). Parece entusiasmo especulativo, não de fundamentos.

23/04/2011 00:00

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